Cinquenta tons de…?

Tédio? Tesão? Romance? Sexo? Vazio? Emoção? Enquanto as fãs de Christian Grey se derretem no cinema, os críticos insistem em encontrar defeitos no longa que foi baseado no romance de E.L. James. Falta de química entre os protagonistas, roteiro que foge do original, cenas quentes que não provocam sensações e o fato de ser um blockbuster baseado num best-seller fez com que Cinquenta Tons de Cinza caísse nas garras dos cinéfilos e recebesse uma avalanche de comentários maldosos por aí.

Minha opinião? Estão falando demais sem necessidade! Assisti ontem ao filme e me surpreendi positivamente com o que vi. Quando li os três livros, achei que o filme seria um fracasso anunciado. Afinal, como colocariam no cinema um romance (quase) adolescente, recheado de cenas eróticas, enfrentando a censura sem atingir seu público principal? Pois conseguiram, e ganharam minha atenção.

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Ao contrário do primeiro livro da trilogia, o filme não foca na relação sexual de Christian Grey e Anastasia Steele, e sim no relacionamento dos dois. As cenas de sexo são um adendo interessante, que tomam conta de aproximadamente 20 minutos das 2 horas de filme. Mais quentes do que de qualquer outro romance hollywoodiano e menos agressivas que qualquer filme do X Vídeos ou RedTube, eles conseguem mostrar bem a relação de dominador x submissa, enquanto ambos enfrentam seus próprios medos: ele, de se relacionar, ela, de se entregar ao universo SDSM (bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo). Ficam de fora cenas que eu achei desnecessárias e cansativas durante a leitura, já que elas se tornavam apelativas quando se estendiam demais. Vale dizer que a trilha sonora (!!!) e os planos de filmagem contribuem para criar o envolvimento necessário de cada cena caliente entre os dois.

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Outro ponto que valorizei foi mudar a relação contratual do casal. Enquanto no livro Grey só se permite entrar num “relacionamento” com Anastasia após a assinatura de um contrato maluco que diz exatamente o que ele pode ou não fazer com ela entre quatro paredes, no longa o contrato vai ficando de lado, apesar de ser citado repetidamente fazendo referência à história original. Porém, no lugar da assinatura entra a dúvida, os questionamentos, a descoberta e o prazer, que vão dando espaço para um romance mais real e plausível, focando nas consequências de um envolvimento SDSM independente do que está em algumas folhas de papel.

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Por fim, acredito que os críticos que acusaram que não existe química entre os atores não leram o livro para falar tamanha bobagem ou estavam esperando um pornozão no cinema. OK, eu concordo que existem Grey’s melhores que Jamie Dornan, mas ele cumpriu bem o papel de um empresário frio e sádico, que se deixa levar quase perdendo o controle de seus sentimentos. Vestindo sempre um terno alinhado e com uma expressão dura, ele se quebra em alguns sorrisos de canto deixando transparecer que sente algo diferente por ela. Em contrapartida, Dakota Johnson dá vida à Anastasia, criando uma personagem infinitamente mais divertida e menos boring, apesar de conseguir me irritar com suas constantes mordidas nos lábios e seus suspiros profundos a cada toque dele. Em todo caso, tiro meu chapéu para os dois, que encararam o desafio de protagonizar as cenas de sexo completamente nus e envolvidos, com muitas mãos, lábios e línguas, mostrando mais do que deveriam para um filme com classificação mínima de 16 anos.

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Se eu mudei de opinião em relação à história? Não. Continuo achando que Cinquenta Tons de Cinza é só mais um romance piegas como qualquer outro, que ganhou visibilidade por trazer cenas eróticas misturadas à uma pitada de sorte da autora, já que existem concorrentes no mercado. Continua sendo uma história sem graça, que tem a capacidade de despertar a fantasia e quebrar vários tabus para muitas mulheres. Concordo até com os mais extremistas que os classificam como “o milionário babaca que sente prazer batendo em uma (ex) virgem que se vende por presentes” – descrição pesada demais, mas com um Q de verdade. Mas se é uma história “vazia”, como muitos continuam pregando por aí, a culpa é de E.L. James, e não de Sam Taylor-Johnson, que conseguiu dirigir o filme respeitando o livro, inovando quando podia, cortando o que deveria e deixando um gostinho de quero mais. Prova disso foi escutar um único e sonoro “nãaaao” de uma fã na última cena no cinema rs. Calma, amiga. Ainda tem mais 😉

Leia também a resenha dos livros:

3 pensamentos sobre “Cinquenta tons de…?

  1. Gostei de ler sua crítica, Gabi.
    Eu (ainda) não reclamei do filme porque não vi, rs… Mas, não tenho muito interesse em ver. Não gostei do livro (o pedaço do primeiro que li) e, por isso, não tô muito curiosa com o filme não.
    Achei legal você conseguir enxergar o desafio que deve ter sido para os atores encarar esses papéis que mexeram tanto com o imaginário de tanta gente. Realmente, não deve ter sido fácil.
    Eu, porém, continuo achando 50 tons uma história que, ao invés de me atrair, me ofende um pouco.

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    • Adorei seu comentário.
      Eu acho que cada pessoa recebe a historia de uma forma diferente. Alguns mergulham na fantasia, outros (eu!) consideram só mais um entre tantos romances e muitos, como vc, acham too much a forma como apresentam a relação dos dois. Em qualquer um dos casos acho que o filme abranda essas sensações, porque ele consegue dosar erotismo e paixão, violência e respeito. Coisa que o livro muitas vezes não faz (na minha opinião).
      Caso resolva assistir algum dia, me conta o que achou :*

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